CBD Medicinal x Epilepsia
A epilepsia é uma doença neurológica que causa atividade neuronal excessiva, levando a crises convulsivas. Cerca de 70 milhões de pessoas no mundo são afetadas por essa doença, e a incidência dos sintomas é maior no primeiro ano de vida. O objetivo de um estudo foi investigar o uso medicinal de canabinoides e sua eficácia no tratamento da epilepsia. Uma revisão sistemática foi realizada em bases de dados como ScienceDirect, Biblioteca Virtual de Saúde - BVS e Pubmed, utilizando os descritores canabinoides e epilepsia, canabinoides e farmacologia. Os fármacos utilizados como forma de tratamento têm eficácia em cerca de 70% dos casos, onde os 30% restantes apresentam uma forma refratária ao tratamento. Os canabinoides têm várias funções terapêuticas, como a diminuição da frequência das convulsões, que é de grande valia para tais pacientes. A partir do recolhimento de dados, a conclusão é que o uso de canabinoides tem efeito promissor no tratamento da epilepsia, quando comparado à convencional farmacoterapia, mesmo acompanhando alguns efeitos colaterais que são de certa forma aceitáveis.
A pesquisa de Porter e Jacobson (2013) explora o uso de óleo de canabidiol enriquecido com CBD em crianças que apresentam resistência aos tratamentos convencionais da epilepsia. Participaram da pesquisa 19 pais de crianças que já faziam uso da substância, onde 13 crianças tinham síndrome de Dravet, 4 tinham síndrome de Doose e 1 tinha síndrome de Lennox-Gastaut e também epilepsia idiopática. 16 (84%) dos 19 pais observaram e relataram redução na frequência de convulsões dos seus filhos no período que utilizavam o óleo de canabidiol enriquecido com CBD. Destes, apenas 2 (11%) relataram não haver diferença na frequência de crises, 8 (42%) alegaram redução superior a 80% na quantidade de crises e 6 (32%) observaram redução de 25-60% na quantidade de crises. Além da diminuição da frequência de crises, alguns dos efeitos benéficos foi o aumento do estado de alerta, melhorado sono e melhorado humor. Os efeitos colaterais foram basicamente fadiga e sonolência.
Laux et al. (2019) determinaram a segurança e tolerância do CBD em pacientes epilépticos resistentes ao tratamento. Uma fórmula altamente purificada de canabidiol foi administrada a pacientes selecionados na dose de 2 a 10mg/kg/dia. Os resultados foram positivos e mostraram que o composto reduziu as crises de pacientes com síndrome de Lennox-Gastaut e síndrome de Dravet após algumas doses administradas semanalmente. O tratamento foi realizado por dois anos sem nenhuma alteração, e metade dos pacientes com essas síndromes teve uma redução de mais de 50% nas crises principais. Os principais efeitos colaterais foram diarreia e sonolência.
No estudo de Gunning et al. (2021), os pacientes receberam um medicamento contendo CBD altamente purificado (solução oral Epidiolex® 100 mg/ml) administrado na dose de 10 ou 20 mg/kg/dia ou receberam um placebo por 14 semanas. Enquanto isso, foi realizada uma análise em um determinado subgrupo de pacientes que estavam usando clobazam e uma meta-análise por síndrome. O desfecho primário foi a redução no percentual do tipo primário de convulsão durante o período de tratamento. Os resultados obtidos foram: 396 pacientes com síndrome de Lennox-Gastaut (49% em clobazam) e 318 pacientes com síndrome de Dravet (64% em clobazam) foram incluídos no tratamento com CBD, o que resultou em uma redução na frequência de convulsões primárias em comparação com o placebo. Houve uma maior incidência de sedação e sonolência em pacientes que usaram CBD com clobazam. Grande parte da incidência de transaminases elevadas ocorreu em pacientes que usaram valproato concomitantemente.
No estudo de Devinsky et al. (2022), 29 indivíduos (12 a 46 anos) com epilepsia que eram resistentes ao tratamento (11 com síndrome de Lennox-Gastaut e 18 com síndrome de Dravet) foram observados prospectivamente. O tratamento foi realizado com canabinoides medicinais (1THC20CBD e/ou 1THC50CBD; com dose máxima de 6 mg THC/dia) por pelo menos 24 semanas. O desfecho primário foi a mudança na quantidade de crises convulsivas partindo da linha de base pré-tratamento seguindo até a fase de dose estável ideal. Neste estudo, não houve diferença significativa durante o período do tratamento, mesmo com doses máximas estáveis para frequência das crises convulsivas, duração das crises, duração do estado pós-ictal ou uso de medicamentos de resgate comparados com a linha de base. Não foram relatados benefícios significativos para distúrbios comportamentais e nem duração do sono, o que sofreu alteração foram os movimentos intestinais, que ficaram mais frequentes em comparação à linha de base. Cerca de dez eventos adversos acometeram 6/29 pacientes, tendo em vista que todos transitórios e a maioria não estavam relacionados à medicação do estudo.
As informações que se encontram nesta revisão indiciam o uso de canabinoides no tratamento da epilepsia quando comparada à convencional farmacoterapia, se mostrando promissor. Dessa forma é possível evidenciar e abordar a eficácia do composto em síndromes epilépticas mais graves, como é visto nas síndromes de Lennox-Gastaut e Dravet, que os efeitos colaterais são mais toleráveis. Além disso, são destacados estudos como o de Gunning, et al. (2021), onde foram abordadas melhorias significativas, proporcionando uma melhor qualidade de vida.
Embora a perspectiva de utilização de canabinoides no tratamento da epilepsia não seja tão atual, vê-se a importância de mais estudos, sabendo-se que não se pode concluir se a sua eficácia é conquistada de forma isolada e predominante, ou se, apenas em segundo plano, tem efeito de fortalecimento nas outras drogas. Ao se tratar de um extrato que tem origem de uma planta que é vista como droga psicoativa, seu rótulo é transformado em um contratempo no avanço científico devido seu uso recreativo, marginalizando assim os compostos, dificultando os estudos e os inviabilizando como promissoras ferramentas terapêuticas.
Tendo em vista isso, reforça-se que apesar dos relatos e evidências presentes na literatura sobre o uso medicinal de canabinoides no tratamento de epilepsia, ainda persiste a necessidade da realização de pesquisas em grande escala com a realização de pesquisas para que seja aumentado o número de evidências científicas atribuindo mais segurança e confiança para os profissionais e familiares sobre o uso clínico desta planta. Sendo assim, podem ser abordados os excelentes benefícios que o uso medicinal de canabinoides também tem sobre pacientes que estão em tratamento da esclerose múltipla, depressão ou dor crônica causada pela artrite ou fibromialgia.